Equipes da residência médica de psiquiatria de Sobral participaram, de 21 a 24 de julho, do 8º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, em São Paulo. O evento, promovido pela Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), tem como objetivo discutir a política de saúde mental, seus avanços, sua potência, seus impasses, a luta antimanicomial e o futuro das políticas de saúde e de proteção social no Brasil.
No congresso os residentes apresentaram relatos de experiências e descreveram as ações desenvolvidas no município. Lucigleyson Nascimento relatou a experiência sobre o papel do uso do diário de bordo na residência de psiquiatria no cenário do matriciamento. A partir dessas ferramentas é possível exercitar sua visão crítica e acessar os desafios de aprendizagem, o que os levou a uma posição ativa na sua formação e os potencializou como sujeitos de transformação dentro dos territórios que atuam.
Na ocasião, Lucigleyson contextualizou sobre o trabalho desenvolvido na Rede de Atenção Psicossocial de Sobral (RAPS) e todo histórico do município com referência em práticas de saúde mental antimanicomiais.
Mônica Farias descreveu a experiência dos residentes na realização do matriciamento para profissionais de todo o Brasil. O matriciamento ocorre com os residentes e profissionais da equipe multiprofissional da RAPS, e propicia apoio às equipes das unidades básicas através da discussão de casos, atendimentos e visitas compartilhadas, momentos de formação, dentre outras atividades.
“Sobral sempre esteve na vanguarda da saúde mental no Brasil e ao longo do tempo tem se empenhado em cuidar que o matriciamento aconteça em todos os territórios do município com equipe multiprofissional, sendo um trabalho árduo da atenção primária e da atenção psicossocial manter o apoio matricial confiando no processo pedagógico e educação continuada como estratégias transformadoras e potencializadoras do SUS.”, disse Narceli Azevedo, tutora e psiquiatra da Rede de Atenção Integral à Saúde Mental de Sobral.
No evento também foi apresentado a organização da Rede de Atenção Psicossocial de Sobral, através de uma construção da gestão da Coordenadoria de Atenção Psicossocial e Residência Multiprofissional de Saúde Mental.
Para a vice-presidente da Abrasme, Ana Paula Guljor, o modelo não hospitalocêntrico e medicalizado em Sobral é referência nacional de uma tentativa de prática de cuidado em rede e de resistência ao modelo biomédico e tecnicista.
A Residência de Psiquiatria de Sobral nasce em 2008 já revolucionária: era uma das primeiras do país planejada e executada fora dos muros do hospital. A ideia era de que a formação fosse sedimentada na comunidade, nos dispositivos de atenção psicossocial, sob a égide da Reforma Psiquiátrica. “Hoje, ainda nos desafiamos a enfrentar as dificuldades de um pensar contra-hegemônico da formação em psiquiatria, pautando-nos no cuidado em território em que o sujeito é parte e não objeto da sua (própria) cura”, explicou o coordenador da residência médica em psiquiatria, Mikkael Duarte.